PREMIADA PELA UNESCO, CLARICE ZEITEL VIANNA SILVA, 26, ESTUDANTE
QUE termina Faculdade de Direito da UFRJ em julho (14/08/2008 às 15:02), concorreu com outros 50 mil estudantes universitários. Ela acaba de voltar de Paris, onde recebeu um prêmio da Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e aCultura (UNESCO) por uma redação sobre 'Como vencer a pobreza e a desigualdade.' A redação de Clarice intitulada 'Pátria Madrasta Vil', foiincluída num livro, com outros cem textos selecionados no concurso.
A publicação está disponível no site daBiblioteca Virtual da UNESCO.
Tema:'Como vencer a pobreza e a desigualdade'
Por Clarice Zeitel Vianna Silva
UFRJ - Universidade Federal do Rio de Janeiro - Rio de Janeiro -RJ
'PÁTRIA MADRASTA VIL'
Onde já se viu tanto excesso de falta?
Abundância de inexistência...
Exagero de escassez...
Contraditórios?
Então aí está!
O novo nome do nosso país!
Não pode haver sinônimo melhor para BRASIL.
Porque o Brasil nada mais é do que o excesso de falta de caráter,
a abundância de inexistência de solidariedade, o exagero de
escassez de responsabilidade.
O Brasil nada mais é do que uma combinação mal engendrada -
e friamente sistematizada - de contradições.
Há quem diga que 'dos filhos deste solo és mãe gentil',
mas eu digo que não é gentil e, muito menos, mãe.
Pela definição que eu conheço de MÃE, o Brasil, está mais
para madrasta vil.
A minha mãe não 'tapa o sol com a peneira.'
Não me daria, por exemplo, um lugar na universidade sem ter-me
dado uma bela formação básica.
E mesmo há 200 anos atrás não me aboliria da escravidão se
soubesse que me restaria a liberdade apenas para morrer de fome.
Porque a minha mãe não iria querer me enganar, iludir.
Ela me daria um verdadeiro Pacote que fosse efetivo na resolução
do problema, e que contivesse educação + liberdade + igualdade.
Ela sabe que de nada me adianta ter educação pela metade, ou tê-la
aprisionada pela falta de oportunidade, pela falta de escolha, acorrentada pela minha voz-nada-ativa.
A minha mãe sabe que eu só vou crescer se a minha educação
gerar liberdade e esta, por fim, igualdade.
Uma segue a outra...
Sem nenhuma contradição!
É disso que o Brasil precisa: mudanças estruturais,
revolucionárias, que quebrem esse sistema-esquema social montado;
mudanças que não sejam hipócritas, mudanças que transformem!
A mudança que nada muda é só mais uma contradição.
Os governantes (às vezes) dão uns peixinhos, mas não ensinam a
pescar.
E a educação libertadora entra aí.
O povo está tão paralisado pela ignorância que não sabe a que
tem direito.
Não aprendeu o que é ser cidadão.
Porém, ainda nos falta um fator fundamental para o alcance da
igualdade: nossa participação efetiva; as mudanças dentro do corpo
burocrático do Estado não modificam a estrutura.
As classes média e alta - tão confortavelmente situadas na
pirâmide social - terão que fazer mais do que reclamar (o que só serve
mesmo para aliviar nossa culpa)...
Mas estão elas preparadas para isso?
Eu acredito profundamente que só uma revolução estrutural, feita
de dentro pra fora e que não exclua nada nem ninguém de seus efeitos,
possa acabar com a pobreza e desigualdade no Brasil.
Afinal, de que serve um governo que não administra?
De que serve uma mãe que não afaga?
E, finalmente, de que serve um Homem que não se posiciona?
Talvez o sentido de nossa própria existência esteja ligado,
justamente, a um posicionamento perante o mundo como um todo.
Sem egoísmo.
Cada um por todos.
Algumas perguntas, quando auto-indagadas, se tornam elucidativas.
Pergunte-se: quero ser pobre no Brasil?
Filho de uma mãe gentil ou de uma madrasta vil?
Ser tratado como cidadão ou excluído?
Como gente... Ou como bicho?
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