Por Denise Madueño, no Estadão:
    Com o Congresso em recesso branco por causa da conferência Rio+20, comissão  especial da Câmara aprovou ontem proposta de emenda constitucional com  potencial explosivo para as contas públicas. O projeto acaba, na prática, com o  teto salarial dos servidores públicos não só da União mas também dos Estados e  dos municípios. Retira ainda o poder do presidente da República de definir o  maior salário pago pela administração pública no País. Essa função, pela  proposta, será exclusiva do Congresso, sem a necessidade de passar pela sanção  ou veto do Planalto.
    A proposta ainda vincula os  salários dos parlamentares aos vencimentos dos ministros do Supremo Tribunal  Federal (STF). Com isso, toda vez que o Congresso aprovar aumentos salariais  para os magistrados, eles serão repassados automaticamente para os deputados e  senadores sem o desgaste político de votar um outro projeto concedendo o  autorreajuste. A "carona" é extensiva a outras autoridades. O texto fixa o  mesmo salário para os três Poderes. Serão também beneficiados o presidente e o  vice-presidente da República, os ministros de Estado, o procurador-geral da  República e o defensor público-geral federal. O salário do ministro do Supremo  e do procurador-geral tem efeito cascata em toda a magistratura.
    Antirreforma. O projeto  aprovado precisa ser votado em dois turnos pelo plenário da Câmara antes de  seguir para o Senado. A proposta, na prática, coloca por terra as reformas  administrativas dos governos dos presidentes Fernando Henrique Cardoso e Luiz  Inácio Lula da Silva, realizadas para frear o pagamento de salários dos marajás  do serviço público e tentar impor limites de gastos com o funcionalismo. Ainda  não há um cálculo fechado sobre o tamanho do impacto nas contas públicas que  tal projeto causará caso passe em definitivo pelo crivo dos parlamentares.
    A proposta foi aprovada na  comissão especial ontem por unanimidade, em reunião que durou pouco mais de  meia hora. Interlocutores do governo no Congresso foram surpreendidos e  consideraram que houve um golpe dos deputados, aproveitando o esvaziamento da  Câmara nesta semana. Essa foi a segunda reunião da comissão especial que  analisa o projeto, instalada em 10 de maio passado.de outros, a proposta do relator, deputado Mauro Lopes (PMDB-MG),  permite o acúmulo de pagamentos de várias fontes — incluindo  aposentadoria, salários, benefícios, decisões judiciais — para o servidor  público, mesmo que a soma exceda o teto, igual ao valor do subsídio dos  ministros do Supremo, atualmente de R$ 26.723,13. O texto aprovado retira ainda  os limites atuais para o salário dos servidores estaduais e municipais, mudando  a regra constitucional.
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