Protofeminista revolucionária, a bela aristocrata Alexandra Mikhailovna Kollontai (1872-1952) propunha abolição da família e Amor Livre. "O ato sexual", escreveu ela em panfleto de 1921, "não deve ser visto como vergonhoso e pecaminoso, mas como algo tão natural quanto outras necessidades do organismo sadio, tais como apetite e sede". O comentário logo se popularizou em versão abreviada e distorcida: copular é tão natural quanto beber um copo d'água. Embora amigo de Kollontai, Lênin (Vladimir Ilyich Ulyyaynov, 1870-1924) resmungou. "Essa teoria do copo d'água tem deixado nossos jovens malucos." O nervosismo de Lênin talvez se devesse à sua secreta bigamia com a concubina Inessa Armand (1874-1920) e a esposa legítima Nadejda Krupskaia (1869-1939). Mas, claro, a instituição da família sobreviveu. Leon Trótsky (Lev Davidovich Bronstein, 1879-1940) deplorou, em 1936, o ressurgimento do "culto da família" na União Soviética, efeito, segundo ele, de a burocracia buscar "hierarquia estável de relações e disciplinamento da juventude".
Trotsky era então uma voz incômoda refugiada no México e animada por cérebro privilegiado. Cérebro que Stálin (Iosif Vissarionovich Djuygashyviyli, 1879-1953) mandou um assassino esfacelar no ano de 1940. Divisões entre comunistas são inerentes ao apaixonado desconcerto de suas teorias e ambições de poder. Veja quantos partidos brasileiros professam diferentes credos comunistas. Comungam, contudo, de obstinação idealista impermeável às sobejas refutações históricas dessas teorias. Nem por isso você deve esperar que Dilma Rousseff venha a ser tratada como camarada presidente. Nem que seu ministério se rebatize como Conselho dos Comissários do Povo. Muito menos, decerto, que ela dispense seus "comissários" no estilo de Stálin: dos 15 titulares originais, nove seriam fuzilados, um morreria na prisão e outro seria assassinado. Bons tempos. Neocomunistas do Brasil de hoje são mais sofisticados.
A maioria não se reconhece explicitamente comunista, mas prefere ambiguidades: "progressista", "socialista". Não pregam mais "monopólio estatal dos meios de produção" (mas decerto logo ampliarão avanço estatal na área, até porque precisam canalizar renda para os "quadros" -e que se lixem os críticos). Estreitarão a pinça propaganda-censura, com abrangência da doutrinação escolar e sufoco para a mídia hostil. Para isso, recrutarão mais mercenários da propaganda, como os que acenderam o sol mitológico, e deverão agora prover brilho próprio ao planeta que ele espirrou. Havendo descoberto que suborno é mais eficaz que pressões, destinarão cargos e verbas à "base aliada" que se alicerça no maior partido de aluguel da história brasileira. Sem esquecer, claro, de acomodar o operoso ofício de lobby, agora com know-how bem menos ingênuo do que os dos primeiros tempos da ascensão, quando vendiam a alma por um Land Rover de segunda mão.
Aldo Pereira
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