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quinta-feira, 21 de fevereiro de 2013

EL MAGNÍFICO France Presse

Ex-agente secreto de Fidel revela em livros segredos do regime.

BEATRIZ LECUMBERRI da France Presse, em Paris


Juan Vives passou parte da vida eliminando inimigos e a outra parte evitando sua própria morte, até que há dois anos, decidiu escrever "El Magnífico", livro de memórias sobre sua vida como agente secreto durante mais de 20 anos a serviço do regime de Fidel Castro.
As revelações começam com a morte de Che Guevara, em 1967. De acordo com a publicação o "gerrilheiro foi abandonado à própria sorte por Fidel, que costumava transformar em ícones gente de quem queria se desfazer".
"Mandaram-no para a Bolívia direto para a morte em uma operação orquestrada pela KGB soviética e pela Stasi (ex-serviços secretos alemães) com a aprovação de Cuba", denuncia.
Além de Che, o ex-presidente chileno Salvador Allende, os irmãos Fidel e Raul Castro e a idealizada revolução cubana são personagens deste livro que acaba de chegar ao mercado literário francês, antes de sair na Espanha e na América Latina.
Este misterioso homem de 63 anos, apelidado de "El Magnífico" (O Magnífico) desde que era um jovem guerrilheiro, foi capitão rebelde do movimento que depôs Fulgêncio Batista em 1959, recebeu treinamento da KGB e diz ter participado de missões em toda a América, e também no Vietnã, na Argélia, em Angola e Etiópia até seu exílio na França, no fim dos anos 70.
"Sei que este livro é uma sentença de morte. Não posso dizer que não tenho medo, mas preciso conviver com ele", disse o ex-agente secreto.
"Em Cuba me conhecem e com certeza têm o manuscrito do livro há meses. Se uso um pseudônimo é porque não quero que meu vizinho saiba quem sou na realidade", afirma.
Demonstrando uma memória prodigiosa, datas, nomes e lugares distantes se ordenam perfeitamente na conversa, em alguns momentos, inacreditável.
Vives afirma nunca ter se unido a movimentos dissidentes na França e revela ter entrado clandestinamente em Cuba nos últimos anos. Sorridente atrás dos óculos escuros, este ex-agente garante que só sua esposa sabe realmente quem ele é.
"Ninguém escolhe seu destino e às vezes me pergunto como se pode seguir linhas de conduta contrárias a qualquer lógica", reconhece em seu livro.
Lembrando de seu exílio, elogia aqueles que restaram, começando pelo poeta e amigo, Raul Rivero. "Todo o meu respeito para a dissidência interna, que paga caro o seu valor", declara.
Olhando para trás, Vives calcula que deveria ter deixado Cuba em 1964. "Mas é difícil descer de um trem a 300 km/h. Tinha que ter partido antes, mas minha mãe estava doente. Esperei e os problemas de consciência tem sido enormes", admite.
Vives também lembra com amargura de Allende, a quem continua chamado de "Chicho".
"Mataram-no e não sou o único que acredita nisso. Muita gente começa a falar. Fidel disse em muitas ocasiões que não poderia se exilar. Tinha que morrer como mártir e não como covarde", afirma, apontando Patricio de la Guardia, chefe de segurança do presidente chileno, como autor do suposto crime.
A gravidade com que fala do passado transforma-se em pessimismo quando se refere ao futuro da ilha onde, segundo ele, a sucessão "já se realizou".
"Raul Castro governa e Cuba se sustenta graças ao turismo, à entrada de divisas e aos 120 mil a 150 mil barris de petróleo que a Venezuela nos dá diariamente", reforça.
Segundo ele, depois dos irmãos Castro, será "inevitável" uma pequena guerra civil em Cuba, depois de "tantos anos de sofrimento" e também existe o risco de que o país se torne "um novo Iraque".
"Guerrilhas e atentados dos fiéis de Castro contra o poder dos Estados Unidos", explica.
Neste clima de "fim de reinado" que vive Cuba, o ex-agente alerta também para a guerra que o "presidente venezuelano Hugo Chávez, manipulado por Castro, está preparando contra a Colômbia".
"Na fronteira entre a Venezuela e a Colômbia há um hospital com médicos cubanos, onde são tratados os guerrilheiros das FARC (Forças Armadas Revolucionárias da Colômbia), e Chávez comprou toneladas de armas", afirma.
Segundo ele, depois de "El Magnífico", editado por Hugo & Cie, ainda há o que dizer e escrever, apesar de seus problemas de saúde ameaçarem seus planos.
Entre esses projetos para o futuro, está uma biografia de Fidel Castro que já está em andamento.
"Comecei a me interessar por ele em 1963. Conheci gente que sabia, inclusive, que sua avó era uma mulata 'santera'(macumbeira) chamada Dominga 'la Bruja' (a bruxa)", conclui.

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