O deputado Odair Cunha (PT-MG) já admite alterar o relatório final da CPI do Cachoeira se não houver acordo sobre seu conteúdo. A leitura do texto foi adiada para amanhã (22) por pressão da oposição que não concorda com pontos do relatório. Cunha afirmou que vai abrir a discussão na próxima semana e que vai aguardar o plenário da CPI levantar os pontos de desavença. Segundo ele, mesmo que não concorde, se houver consenso, o relatório será alterado. O objetivo é que os partidos se exponham para defender a retirada de pedidos de indiciamento ou de investigação. "Não admito fazer acordo fora do plenário. Quem quiser tirar alguém vai ter que dizer", afirmou.
Segundo Cunha, a negociação é para evitar que o relatório seja rejeitado e a CPI termine sem conclusão. "Se eu tirar o instrumento de diálogo, o risco é rejeitar." Apenas o relator tem poderes para alterar o texto. Um dos pontos polêmicos que deve ser retirado do texto, na opinião do próprio relator, é o pedido de indiciamento do jornalista Policarpo Junior, da revista "Veja", que tinha o empresário Carlos Augusto Ramos, o Carlinhos Cachoeira, como fonte. "Fomos pegos de surpresa", afirmou o deputado Leonardo Picciani (PMDB-RJ), que disse ser contrário ao indiciamento do jornalista.
A oposição também não aceita o pedido de investigação do procurador-geral da República, Roberto Gurgel. "Foi uma decisão minha incluir o Gurgel", afirmou o relator, rebatendo críticas de que o fez atendendo ao PT. O procurador foi responsável por defender no STF (Supremo Tribunal Federal) a condenação de petistas envolvidos com o esquema do mensalão. O relatório da CPI pediu o indiciamento alegando que ele prevaricou ao dar andamento às investigações de políticos com Cachoeira em 2012, quando o pedido foi de 2008. Gurgel sustenta que fez isso para não prejudicar outra investigação, aberta apenas em 2010, que desvendou uma quadrilha que seria operada por Cachoeira.
Os críticos do relatório dizem que as investigações não avançaram na CPI para justificar alguns pedidos de indiciamento e defendem mais prazo para a investigação. A comissão deixou de investigar 116 empresas e não identificou os beneficiários do dinheiro arrecadado pelo esquema. "Não podemos pegar esse cadáver e enterrá-lo. É um trabalho que não chegou a lugar nenhum", afirmou o senador Cássio Cunha Lima (PSDB-PB).
Os tucanos não gostaram do pedido de indiciamento do governador Marconi Perillo (PSDB-GO), acusado no relatório de receber dinheiro do esquema supostamente operado por Cachoeira. "Esta CPI está se tornando uma balela. É um instrumento de perseguição", complementou o senador Pedro Taques (PDT-MT).
O deputado Protógenes (PSOL-SP) afirmou que a CPI se recusou a investigar empresas laranjas que receberam dinheiro do esquema por meio da empreiteira Delta, o que seria um avanço nas investigações da Polícia Federal. "Criminoso é quem ficou de fora. Sequer foi aprofundada a investigação do financiamento de campanhas políticas com dinheiro da corrupção." "O que se fez foi proteger, esconder. O deputado Odair está cumprindo uma missão que lhe foi dada. A missão de esconder relações terríveis", disse o deputado Onyx Lorenzoni (DEM-RS).
Parlamentares do PT saíram em defesa do relator, o que provocou uma "saia justa". Ao defender o relatório, o deputado Paulo Teixeira (PT-SP), deixou a impressão nos colegas de que conhecia o teor do relatório com antecedência. "Parece que foi vossa excelência quem escreveu o relatório", disse o deputado Domingos Sávio (PSDB-MG). "Eu vi na imprensa", respondeu Teixeira. O presidente da CPI, senador Vital do Rêgo (PMDB-PB), deixou a sala dando lugar para que o vice-presidente Paulo Teixeira conduzisse a reunião. (Folha Poder)
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