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terça-feira, 1 de maio de 2012

Rosane Oliveira, Zero Hora - Para (Tarso Genro) não ser incoerente

- Depois de levar um pito do jornalista David Coimbra, que por pouco não o chamou de "sem vergonha" ("O senhor não tem vergonha, governador?", perguntou o jornalista da RBS), o governador Tarso Genro resultou novamente atacado neste sábado pela jornalista Rosane Oliveira, editora de Política da RBS. Ela desnuda as incoerências do governo do PT, mas usa formas oblíquas e mais delicadas para demonstrar que Tarso Genro não cumpre a palavra dada. Da mnesma forma que vestiu a carapuça na primeiras vez, o governador voltou a vestir o chapéu desta vez, reagindo com ira diante dos comentários dos seus antigos afetos, acusando-os agora de "conhecidos desafetos". O episódio serve bem para ilustrar a antiga tese do editor, segundo as quais os líderes do PT do RS sofrem de continuada Síndrome do Escorpião.

Se tivesse de escolher entre a incoerência e a irresponsabilidade, o que você escolheria? É nessa sinuca que se encontra o governador Tarso Genro, depois de ter prometido mundos e fundos aos funcionários públicos e de ter subestimado as dificuldades financeiras do Estado, que engessaram seus antecessores. Se um governador opta pela incoerência, o problema é dele. Se para ser coerente comete a irresponsabilidade de gastar o que o Estado não tem, a conta vai para o cidadão na forma de aumento de impostos ou de redução de investimentos.


Para ser coerente com o discurso de campanha e com o comportamento do PT na oposição, Tarso já deveria estar pagando o piso salarial – R$ 1.451 como vencimento básico sobre o qual incidem as vantagens. Seria ótimo se o Estado tivesse dinheiro para acrescentar quase R$ 3 bilhões à despesa anual com servidores públicos. Como não tem e a margem para remanejamento de despesas é mínima, o governador teria apenas uma alternativa no curto prazo: tomar emprestados 90% dos depósitos judiciais que estão guardados no Banrisul. O problema é que esse dinheiro é das partes que litigam na Justiça e acabaria em menos de dois anos. Como o governo poderia reembolsar o que tomasse emprestado?

Os depósitos judiciais somam mais de R$ 4 bilhões, mas há um detalhe para o qual é preciso prestar atenção: mais da metade são de ações contra uma única empresa. Essas ações devem ser julgadas em bloco, a qualquer momento, e o dinheiro terá de estar disponível. Antes de criar uma despesa fixa, o governo precisa arranjar receita, sob pena de colocar em risco o pagamento em dia dos próprios salários.

Para ser coerente com o que o PT pregou na oposição, Tarso não poderia ter feito o acordo que fez com o Ministério Público para pagar um abono que eleve para R$ 1.451 o salário dos professores que hoje têm vencimento básico inferior ao piso nacional do magistério. Só que essa coerência significaria privar mais de 30 mil professores de ganharem um salário minimamente decente para exercer a nobre tarefa de ensinar.
Para acalmar as corporações, Tarso já se comprometeu com aumentos que extrapolam seu período de governo, ato considerado irresponsável pelo presidente do PP, Celso Bernardi. Como tem pretensão de conquistar o governo em 2014, o PP teme herdar contas que não conseguirá pagar.

Tarso e o PT foram contra o projeto de construção da ERS 010 pelo sistema de parceria público-privada com cobrança de pedágio. Por coerência, deveriam continuar sendo contra, mas a responsabilidade manda encontrar uma alternativa para desafogar o tráfego na ligação de Porto Alegre com o Vale do Sinos e o governo se encaminha para encarar a PPP com diferenças.

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