Adriana Vandoni - http://www.prosaepolitica.com.br/
Um feriado no meio da semana. Os olhos de muitos, em especial dos homens, mais ocupados na expectativa do início dos lances da seleção brasileira, eu não, detesto futebol!, mas o dia era ideal para o povo descontrair e se desligar da correria do dia-a-dia. Tudo tranqüilo até que sai nos jornais a notícia da morte do médico legista Carlos Delmonte Printes. Delmonte foi o primeiro a examinar o corpo do prefeito Celso Daniel e a denunciar que não foi um crime comum. Houve tortura, supostamente para que Celso Daniel entregasse ou falasse algo, pois, segundo o legista, o prefeito estava com a cueca invertida, coisa que no mundo criminal quer dizer traição. Provavelmente os autores do assassinato queriam mostrar que o prefeito os tinha traído. As investigações feitas até agora mostram que Celso Daniel tinha tentado acabar com o esquema corrupto que, conforme já comprovado e assumido pelos próprios irmãos do morto, ele mesmo tinha montado para arrecadar propinas para o Partido dos Trabalhadores.
O desenrolar dos acontecimentos pode até nos levar a dúvidas e suposições macabras como se vivêssemos um roteiro de novela, uma trama onde o horror de assassinatos são entremeados com lances que de tão óbvios, chegam a ser cômicos. As primeiras notícias eram de que o médico legista tinha sofrido um infarto, porém não foi descartada a possibilidade de envenenamento, como suspeita o Ministério Público paulista.
Mesmo que essa morte tenha se dado por causas naturais, problemas cardíacos, é no mínimo estranha a forma como ocorreram tantas outras mortes ligadas ao caso Celso Daniel. Seria apenas uma macabra coincidência? Ou seria queima de arquivo, que no jargão policial é o assassinato de uma pessoa que sabe demais? Matando, elimina-se a possibilidade da pessoa denunciar ou revelar algo. Os promotores do MP paulista suspeitam que uma seqüência de mortes tenha tido esse objetivo.
Tudo começou com a morte do garçom do Rubaiyat que serviu Celso Daniel e seu amigo Sombra pouco antes do "crime comum", como querem nos fazer crer. O garçom dirigia sua moto quando dois homens o perseguiram e o agrediram até que ele entrou com tudo em um poste. Ele foi encontrado com documentos falsos e, como se descobriu, em sua conta bancaria havia um ine xplicável depósito de R$ 60 mil. Ninguém foi atrás da origem desse depósito, se foi oriundo de chantagem, se ele chantageou ou se foi pago para ficar quieto. A conclusão da polícia foi que sua morte foi "acidental". O que ligou essa morte à morte de Celso Daniel, foi uma conversa telefônica gravada pela Polícia Federal entre Sombra e o então vereador do PT em Santo André, Klinger Luiz de Oliveira Souza: "Você se lembra se o garçom que te serviu lá no dia do jantar é o que sempre te servia ou era um cara diferente?", indagou Klinger. "Era o cara de costume", respondeu Sombra.
Dias depois do garçom "morrer-se", também morreu a única testemunha da sua morte, "acidentalmente" com um tiro nas costas. Iran Moraes Rédua, agente funerário que reconheceu o corpo do prefeito, também morreu. Foi assassinado com dois tiros "acidentais" (?) enquanto trabalhava.
Outro assassinado foi Dionízio Severo, detento apontado pelo Ministério Público como o elo entre Sérgio Sombra, amigo e acusado de ser o mandante do crime, e a quadrilha que e xecutou o crime. Dionísio foi resgatado de helicóptero dois dias antes do seqüestro do prefeito e ao ser recapturado disse que tinha revelações importantes sobre o caso Celso Daniel. Foi morto no outro dia. Sérgio Orelha, dono da casa que serviu de abrigo para Dionísio durante o período de fuga, também foi assassinado.
O policial Otávio Mercier, que havia feito um ligação para Dionísio na véspera do seqüestro do prefeito, também foi morto.
Acidentes? Coincidências? Seriam apenas etapas banais e necessárias para se alcançar um poder maior? Ou obra de algum leitor compulsivo de Agatha Christie?
Este artigo foi publicado em janeiro de 2007. Hoje, janeiro de 2012, as sete mortes continuam sem elucidação.
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