Arábia Saudita inaugura a maior universidade do mundo só para mulheres
As mulheres compõem apenas 14,4% da força de trabalho nacional saudita. O rei saudita Abdullah bin Abdulaziz inaugurou no dia 15 a maior universidade do mundo só para mulheres, que ocupa oito milhões de metros quadrados e custou mais de 20 bilhões de riais (US$ 5,3 bilhões) para a sua construção. Mas, muitas mulheres estão questionando onde as habilidades que eles irão adquirir vão ser colocadas em uso. Esperado receber até 40.000 alunas, a Universidade Princesa Nora bint Abdulrahman, que está localizada na periferia da capital Riad, terá vagas suficientes nas suas aulas do primeiro ano para 60% de todas as mulheres do reino que tenham diploma do ensino médio. "O Rei realiza o seu sonho ao inaugurar o Portal do Conhecimento para a mulher saudita" anunciou cerimoniosamente o jornal saudita Al-Watan. Mas a transição da educação formal para o emprego é particularmente difícil para as mulheres sauditas, que compõem 58% do total de estudantes, mas que são apenas 14,4% da força de trabalho nacional. Os números relativos ao emprego feminino são significativamente menores do que no Ocidente, e mais baixos até mesmo em comparação com os países vizinhos do Golfo, como os Emirados Árabes Unidos (59%), Kuwait (42,5%) e Catar (36,4%). Fawzia Al-Bakr, uma professora de educação na Universidade Rei Saud em Riad disse que a nova universidade e os seus 15 departamentos abrirão novos campos educacionais que estavam limitados para as mulheres na Arábia Saudita, como informática e enfermagem. Ela disse que embora a nova universidade provavelmente não tenha qualquer dificuldade para preencher as suas bancadas com estudantes ansiosas, a procura de emprego será um desafio para as mulheres: "A Arábia Saudita tem uma grande população jovem e o emprego para mulheres é um grande problema que as instituições educacionais não serão capazes de resolver. É um problema social, cultural e sistêmico, mas a educação deve ser fornecida para todos, independentemente de oportunidades de emprego". O rei Abdullah está percorrendo um caminho difícil entre os liberais, e se acredita que ele seja um deles, e a facção dominante conservadora das instituições religiosas do país. O liberalismo na Arábia Saudita atingiu o seu apogeu em fevereiro de 2009 com a nomeação de Nora bint Abdullah Al-Fayez como vice-ministra da Educação, e foi a primeira mulher a ocupar um cargo ministerial no reino. Mas alguns especialistas dizem que o feminismo entrou em declínio desde então. As mulheres sauditas estão proibidas de dirigir automóveis ou sair de casa a não ser quando acompanhadas por um tutor do sexo masculino. O mais recente golpe veio em 28 de março quando o governo anunciou que as mulheres não seriam autorizadas a votar nas eleições municipais. A eleição que foi a segunda já realizada na história do reino, tinha sido adiada de 2009 sob o pretexto de que era necessário mais tempo para permitir que as mulheres votassem. Mesmo Abdullah, em seu discurso de abertura, enfatizou o papel da mulher saudita como sendo mais importante o papel de mãe do que como uma ganha-pão. "A mulher saudita é uma mãe amorosa, uma cidadã construtiva e funcionária diligente" ele disse. Rima al-Mukhtar, uma jornalista do diário em inglês Arab News baseado em Jedda, disse que está confiante de que as diplomadas da nova universidade irão encontrar trabalho no reino se elas adquirirem as competências necessárias para o mercado de trabalho. Ela disse que os campi das grandes universidades sauditas têm lugares separados para homens e mulheres, mas a nova Universidade Princesa Nora bint Abdulrahman é a única na qual estudarão somente mulheres. "É como em qualquer outro país" disse Al-Mukhtar: "Quando você tem conhecimentos de Inglês ou de computador, é mais fácil encontrar um emprego". Al-Mukhtar disse que não teve problema em encontrar trabalho no jornalismo imediatamente após a formatura, acrescentando que os homens e mulheres sentam em escritórios separados no local de trabalho, mas às vezes se misturam nas reuniões realizadas na parte da manhã. Ela disse que os homens e as mulheres eram livres para escreverem sobre todos os assuntos. Mas Al-Mukhtar parece ser a exceção e não a regra. As mulheres sauditas tendem a se especializar nas áreas de saúde e educação, com 85% trabalhando na educação e 6% na saúde pública. Cerca de 95% das mulheres sauditas estão empregadas no setor público. Eman Al-Nafjan, blogueira e professora de Inglês que mora em Riad disse que as mulheres no reino há muito tempo têm reclamado sobre instalações de ensino inadequadas. Ela disse que o novo e moderno campus, onde um trem monotrilho conecta os edifícios da universidade, foi uma introdução bem-vinda no cenário educacional do país. Ela acrescentou, porém, que mesmo quando tem emprego as mulheres sauditas terão de enfrentar a discriminação no local de trabalho. "Mesmo nos setores da saúde e educação, onde as mulheres estão empregadas há um teto de vidro" ele afirmou para a The Media Line. Al-Nafjan relatou que as mulheres sauditas freqüentemente optam pelo ensino superior porque não conseguem encontrar um emprego quando terminam o ensino médio. Os conservadores religiosos não contestam a nova universidade, pois ela não viola dois dos princípios que os homens sauditas consideram muito importantes, a educação separada para homens e mulheres e a proibição para mulheres dirigir carros. Professoras não podem ensinar alunos do sexo masculino, informou Al-Nafjan, acrescentando que a maioria das faculdades de humanidades na Arábia Saudita emprega um sistema de circuito fechado de TV onde os professores do sexo masculino podem ensinar as mulheres sem vê-las.
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