Em janeiro, Lula será apenas e tão somente, um aposentado. Na verdade, um tri-aposentado (por invalidez, por ter passado 30 dias na cadeia e, em janeiro, por ser ex-presidente).
Já se manifestam, neste momento, alguns sintomas que podem ser atribuídos à abstinência do poder. São sintomas antecipados, na verdade, mas que já se manifestam, com incontinência verbal, apologia da violência explícita e, muito provavelmente, suores noturnos e pesadelos…
A idéia de que quem não está comigo, está contra mim. Que eu me recorde, o Brasil só veio a conhecer esse fenômeno, agora na era Lula. Herdamos um triste legado. Os prós e os contra. O Brasil está dividido entre pobres e ricos, negros e brancos. Lula levou o cabo à expressão abaixo.
Dividir pra dominar
Para o filósofo alemão Carl Schmidt, verdadeiro líder político é aquele que sabe dividir o povo em dois campos mutuamente hostis. É o que sabe e não sente pudor algum em jogar uma parte contra a outra, fomentando a polarização e cuidando de tirar dela todo o proveito possível.
Schmidt foi um dos principais ideólogos dos regimes totalitários da primeira metade do século 20. Em 1933, ele se inscreveu formalmente no Partido Nazista. Sua marca inconfundível foi o mencionado conceito de política como uma polarização entre “amigos” e “inimigos”.
Antes que se agitemAntes que os lulistas se agitem, faço aqui uma pausa para esclarecimentos. Eu não estou dizendo que Lula é nazista. Não estou vendo José Dirceu e tutti quanti subindo uniformizados a rua, cada um com sua cruz suástica. O que estou dizendo é que Lula e o PT, de modo geral - em parte por desconhecimento do passado e em parte por má-fé eleitoral – têm sistematicamente recorrido a símbolos e táticas que Carl Schmidt de bom grado aprovaria.
Contrapor o ”povo” e a “elite”, por exemplo. Povo e elite numa vaga representação simbólica, como entidades imaginárias, insuscetíveis de definição precisa. Vaga como convém a uma simples marcação de distâncias e ressentimentos, com objetivo apenas eleitoral.
Uso com freqüência a entrevista de um ex-guerrilheiro do Araguaia para explicar para as pessoas quem é essa gente. Falo de um ex-presidente do partido do presidente, a negar no programa Roda Viva, em 2005, que houvesse qualquer coisa errada nas contas do seu partido. Ele era tão convincente que, ao misturar a história da legenda com a sua própria, chorou. Todos ficaram muito comovidos.
Aí os horrores começaram a vir à luz. E, aos poucos, ele foi admitindo os “negócios” com Marcos Valério. As lágrimas eram apenas o ponto alto de sua pantomima. Assim, nunca pergunte a esta gente onde está a verdade. Ela costuma não estar em lugar nenhum. Eles vão adaptando as versões à necessidade da hora.
Dever de todos
Cumpre-nos, pois, combater essa visão regressiva do processo político, que supõe que o poder conquistado nas urnas ou a popularidade de um líder lhe conferem licença para ignorar a Constituição e as leis. Propomos uma firme mobilização em favor de sua preservação, repudiando a ação daqueles que hoje usam de subterfúgios para solapá-las. É preciso brecar essa marcha para o autoritarismo.
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