Ô vida dura! Começo a entender melhor certas coisas. Algum fã de Francisco Carlos Teixeira, professor de história contemporânea da UFFRJ e comentarista da GloboNews, enviou uma mensagem para o blog me esculhambando. Com efeito, eu o critiquei duas vezes nesta semana. Na primeira porque, quando a Prefeitura de São Paulo foi atacada por vândalos, em vez de ele censurar os bandidos, ele criticou o prefeito por não ter, até então, baixado a tarifa. Na segunda porque, quando a Polícia Militar do Rio reagiu às agressões que sofreu, ele, mais uma vez, poupou os marginais e criticou a… polícia!!! Desta feita, foi ainda mais longe. Deu uma receita para Dilma debelar a crise e aproveitou para atacar a aprovação em uma comissão da Câmara de um "projeto de cura-gay" que custaria uma fortuna aos cofres públicos. Eita!!! Vamos ver: a) não existe um projeto de cura-gay; b) o que existe é um Projeto de Decreto Legislativo que derruba duas resoluções do Conselho Federal de Psicologia. Custo para o Estado: ZERO! Vale dizer: opinava sobre assunto que ignorava completamente. Pois é… Longe de mim afirmar que ele é um descuidado sistemático em matéria de história, mas que é capaz de enormidades, ah, isso é, sim. Em 2004, o também professor de história Marco Antonio Villa publicou uma resenha na Folha sobre o lançamento da coleção "O Brasil Republicano", coordenada por Jorge Ferreira e Lucilia de Almeida Neves Delgado. Francisco Carlos Teixeira assinou o ensaio "Crise da Ditadura Militar e o Processo de Abertura Política". Cometeu, então, o seguinte parágrafo: "Em 1968, no bojo de uma profunda crise econômica e da perda do controle das ruas e do avanço da guerrilha urbana, sequestro do embaixador dos Estados Unidos, por exemplo-, produz-se o chamado golpe dentro do golpe, quando uma junta militar impede a posse do vice-presidente, o mineiro Pedro Aleixo, no afastamento por motivo de saúde do general Costa e Silva, e impõe ao país uma dura série de medidas policiais, consolidadas, numa sexta-feira 13 (dezembro, 1968, início de uma longa noite de terror), no chamado Ato Institucional nº 5″ (pág. 257)". Observa o professor Villa na resenha: "Vamos aos erros. Primeiro: em 1968 já se havia iniciado a retomada da economia, tanto que é o início do "milagre brasileiro". Segundo: o embaixador Charles Elbrick foi sequestrado em setembro de 1969. Terceiro: a Junta Militar toma posse em agosto de 1969. Quarto: já na Presidência, a patente de Costa e Silva era a de marechal. Quinto: o AI-5 foi assinado por Costa e Silva, e não pela Junta Militar. Convenhamos: são muitos erros para tão poucas linhas". Pois é… É erro demais, especialmente quando se é um historiador. Convenha-se: o juízo que se possa ter sobre isso e aquilo pode variar de acordo com ideologia, gosto etc. Mas o compromisso com o fato me parece matéria-prima essencial do historiador. Noto que, no caso do livro, ele usou os mesmos instrumentos de precisão com que analisou o ataque à Prefeitura de São Paulo, a agressão à PM do Rio e o projeto — que não existe — da "cura-gay". O que existe, e é outra coisa, não vai custar um tostão ao Estado. A sua opinião só é considerada mais qualificada do que a de um pipoqueiro ou a de faxineiro da Globo-News porque, supostamente, dispõe de mais instrumentos para distinguir o fato da ficção. Por Reinaldo Azevedo
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