Total de visualizações de página

quinta-feira, 19 de janeiro de 2012

"Fui impedida de governar"


Clipping jornal Metro Porto Alegre

Em entrevista para o jornal Metro, a ex-governadora critica a oposição "ideológica e eleitoral" a seu mandato. Para ela, o RS não tem autonomia política e econômica.


Esbanjando bom humor e um bronzeado típico do verão, sua estação predileta, a ex-governadora do Rio Grande do Sul, Yeda Crusius, rompeu o silêncio que mantinha desde que deixou o cargo, em janeiro de 2011, para anunciar que terá um "ano sabático" pela frente.

Longe do poder – e dos holofotes – por mais de um ano, a ex-governadora que vai contar em livro as suas experiências administrativas, que passam pela Câmara dos Deputados e ministério do Planejamento, nos anos de 1990, até o governo gaúcho (2007- 2010), em que teve embates duríssimos com a oposição comandada pelo PT. "Vou escrever o que já fiz e não contei", resumiu.

Yeda informou que participará "ativamente" da campanha a vereadora da filha, Tarsila, e deixou uma porta aberta para 2014. Ela também evitou avaliar o governo de Tarso Genro, que a sucedeu no Piratini. "Mas do que ouço, tem gente com saudade de quando as coisas iam bem", ironizou.

A seguir, os principais trechos da entrevista:

Metro - A senhora criou uma secretaria de irrigação que foi extinta pelo atual governo. Os efeitos da seca atual lhe surpreendem?

Yeda - Não. A cada cinco anos sempre temos dois ou três de seca. Não fui eu que inventei, aqui todo mundo sabe disso. É, inclusive, a origem do nosso desequilíbrio regional. Por isso acabei assumindo como nosso principal problema. A irrigação passou a ser um programa estruturante. Eu só posso lamentar, pelo Estado, que a secretaria de irrigação não tenha sido mantida.

Metro - Mas ela deu resultado?

Yeda - No nosso caso, a gente cumpriu. Tanto que tivemos seca mas não faltou água. Houve supersafras recorrentes, ano após ano. O PIB gaúcho cresceu a ritmo chinês em meio à crise mundial. Os que governam hoje é que precisam dizer o que estão fazendo.


Metro - A senhora está pessimista com a situação econômica do RS?

Yeda - Sim. Um governo que não tem orçamento próprio, autônomo, sempre estará a reboque. Então, se a crise vier vamos sofrer mais do que outros Estados que têm autonomia.

Metro - Não tem orçamento por quê?

Yeda - Porque está fazendo déficit. Eu não fiz déficit, pelo contrário: aumentei o orçamento e gerei recursos com a capitalização do Banrisul [em 2007] e com empréstimos do Banco Mundial.

Metro - Mas no primeiro ano de governo a senhora realizou déficit.

Yeda - Não, eu reduzi pela metade. No segundo ano, acabou. Porque além de juízo a gente teve um pouquinho de sorte também, porque o mercado financeiro deu um valor enorme pelo Banrisul. A partir daí só tivemos superávit. Como é que se cobre o déficit deste ano [cerca de R$ 450 milhões]? Fazendo mais dívida. Eu fiz o caminho contrário. Se o governo não tem como meta ter autonomia orçamentária para fazer aquilo que acha importante em termos de política pública, então não tem um futuro muito promissor. Ele vai dar ao RS o caráter de maior estagnação entre todos os outros Estados.

Metro - A questão salarial do magistério tem solução?

Yeda - Eu propus uma remuneração inicial de R$ 1,5 mil para professores e soldados da BM, que valesse desde 1º de janeiro de 2010. As lideranças politico-partidárias e as lideranças sindicais impediram que fosse feito. Nós criamos até orçamento para isso. As lideranças é que têm que explicar por que os professores e os brigadianos ainda não ganham R$ 1,5 mil por mês.

Metro - A senhora acha que o Duplica RS também está fazendo falta?

Yeda - Uma parte nós fizemos. Mas depois fomos impedidos, em novembro de 2008, de prosseguir. Tínhamos colocado o projeto na Assembleia, que significava redução de pedágio a partir de janeiro de 2009 e duplicação das rodovias mais importantes com recursos dos pedágios. Mas nada foi feito porque nos impediram, em nome de uma questão ideológica e eleitoral. Agora estão voltando ao princípio.

Metro - Quer dizer que houve um boicote?

Yeda - Fui impedida, sim. O então ministro dos Transportes [Alfredo Nascimento] mandou uma carta dizendo que não aceitaria a decisão da Assembleia. Aí eu ouvi meu conselho político e decidi que não ia submeter os deputados a isso, para depois entrar numa pendenga jurídica. E quem é que jogava isso com todas as letras no RS? Quem dizia que se eu duplicasse estradas ganhava a eleição. Estamos muito atrasados em relação ao que poderíamos estar realizando hoje.

Metro - A senhora pode voltar à Câmara dos Deputados?

Yeda - Se houver um projeto que precise do Congresso, é uma possibilidade.

Metro - Que nota a senhora dá ao atual governo?

Yeda - Não dou nota. Já tinha dificuldade em dar nota para os meus alunos... Mas do que ouço em relação ao governo, tem gente com saudade de quando as coisas iam bem. Voltou o choro, né?

Nenhum comentário:

Postar um comentário