A desistência de quatro gigantes do setor petroleiro do leilão do pré-sal surpreendeu o Planalto e a ANP (Agência Nacional do Petróleo), que previam uma disputa mais acirrada, com cerca de 40 empresas, e não apenas as 11 que acabaram se inscrevendo. Segundo executivos do setor ouvidos pela Folha, a ausência das norte-americanas ExxonMobil e Chevron e das britânicas BP e BG reforça a tese de que o leilão, marcado para o dia 21 de outubro, despertou muito mais interesse em estatais que visam assegurar reservas, e não em empresas que querem lucrar com a venda de petróleo.
Na lista final, seis são estatais --duas da China. Outra chinesa está associada à espanhola Repsol e, na Petrogal, à portuguesa Galp. Entre as grandes privadas, só figuram Shell (Reino Unido-Holanda) e Total (França). Para a China, o mais importante é mover a sua indústria manufatureira. Ou seja, seu foco é exportar produtos de maior valor e usar commodities importadas, como petróleo e minério de ferro.
Para analistas, o acesso ao petróleo é ainda uma questão geopolítica e de garantia de suprimento externo que talvez seja fundamental apenas para a China. Um sinal de interesse pela participação das chinesas foi a visita recente da presidente da Petrobras, Graça Foster, ao país. Segundo executivos do setor, o formato do leilão e as regras do modelo de partilha afastaram empresas que já tinham foco em outros países, como BP e Exxon.
No campo regulatório, a incerteza maior é em relação à entrega do óleo à nova estatal do pré-sal (a PPSA), que vai cuidar de todos os contratos de partilha de produção, definindo o que pode ser abatido como custo operacional do óleo e ser entregue a ela. Outro ponto, dizem, é a imposição da Petrobras como sócia obrigatória com 30% de participação e operadora do campo --ou seja, responsável por todas as contratações de pessoal, equipamento, prazos de exploração etc.
Para David Zylbersztajn, ex-diretor-geral da ANP, o pré-sal perdeu atratividade por outros motivos, como o menor grau de dependência de países como os EUA --que descobriram grande reservas de gás de xisto e serão autossuficientes em poucos anos. "O petróleo já não é tão estratégico com o era há dez anos."
EXPLICAÇÕES
A diretora-geral da ANP, Magda Chambriand, disse que recebeu telefonemas de Exxon, BP e BG, nos quais as petroleiras "reafirmaram o interesse no Brasil", apesar da não participação no leilão. Magda chegou a falar que seriam 12 as inscritas, informação logo depois corrigida pela ANP. Segundo a Folha apurou, a Chevron seria a 12ª, mas desistiu na última hora. Magda atribuiu as ausências à "conjuntura". "Agora existe um contexto mundial de situações muito específicas de cada empresa que levam a essa situação."
A desistência das empresas, dizem especialistas, mostra ainda que, para gigantes do setor, as novas regras impostas pelo governo não são boas e o espaço para "ganhar dinheiro" é reduzido. Sinaliza também uma maior desconfiança em relação ao país, já apontado pelas dificuldades no leilão de rodovias.
No mercado, a surpresa foi a atitude da BG, já que é a principal sócia da Petrobras no pré-sal e vinha com um discurso de apostar no país. Pesou, segundo a Folha apurou, o fato de a empresa estar com o caixa comprometido para o desenvolvimento de projetos como o do campo de Lula (bacia de Santos), do qual é parceira da Petrobras. Ao governo BG e BP disseram que "gostam" de assumir mais riscos, porque o lucro também é maior. Procurada, a BG não respondeu à reportagem. Ninguém da Exxon foi localizado. A BP disse que não iria comentar. (Folha Poder)
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