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terça-feira, 9 de outubro de 2012

Um condenado de peso

ter, 09/10/12
por Cristiana Lôbo |

Está condenado pelo Supremo Tribunal Federal por corrupção ativa o homem forte do governo Lula, o ex-deputado José Dirceu. Até aqui, seis ministros votaram pela condenação e dois pela absolvição – e faltam ainda dois votos, o do ministro Celso de Melo e o do presidente Ayres Britto. Esta condenação atinge diretamente o PT e o governo Lula pela dimensão de Dirceu nos dois primeiros anos do governo, como ministro-Chefe da Casa Civil; e, principalmente, o PT, uma vez que depois de Lula, Dirceu é a figura mais importante do partido.

José Dirceu é considerado o cérebro do PT e o responsável pela estratégia de ampliar as alianças para o campo do centro com o objetivo de conquistar novos eleitores para as campanhas de Lula. Ele assumiu a presidência do partido em 1994 com a tarefa de rearrumar o partido. Mas somente depois de ampliar para o centro as alianças é que Lula conseguiu vencer a eleição em 2002, depois de três tentativas de chegar ao poder. De lá para cá, é sempre o mais aplaudido nos encontros do PT e está sempre envolvido em articulações do partido em disputados – sejam elas municipais, estaduais ou nacionais.

A força de Dirceu era surpreendente tanto no governo como no partido. Na Casa Civil, era quem defendia os interesses petistas, mas, naquela ocasião, com os olhos voltados para o sucesso do governo Lula. Ele concentrava poderes administrativos e também de coordenação política.

Antes mesmo da posse, Dirceu sugeriu a Lula convidar o PMDB para participar do governo e chegou a oferecer ao partido dois ministérios: o de Minas e Energia e o dos Transportes. Lula resistiu e desautorizou Dirceu que já havia feito o convite para a direção do PMDB. Na ocasião, Lula disse que preferia atrair os chamados "partidos médios" que eram o PP, o PL, que indicara o vice José Alencar e o PTB de Roberto Jefferson. Em menos de dois anos, a estratégia se transformou na denúncia de "mensalão" para conquistar apoio dos aliados.

Depois de o escândalo vir a público, Delúbio Soares assumiu a responsabilidade pelo que chamou de "recursos não contabilizados" – uma tentativa de isolar a responsabilidade, sem envolver autoridades do governo. Mas, depois da denúncia de Jefferson envolvendo seu nome, Dirceu foi obrigado a deixar o governo para que as denúncias de Jefferson não chegassem ao Palácio do Planalto nem à figura do presidente Lula.

Ao longo desses sete anos, desde a explosão da denúncia até o julgamento do caso, o PT conviveu com acusações de políticos, mas a força eleitoral de Lula presidente era maior do que qualquer ataque. Agora, o julgamento acontece  com ele já distante do poder.

Mas, na expectativa da condenação pelo STF, o PT e suas principais figuras já dão a orientação à militância para adotarem um discurso único daqui em diante. O candidato do partido à Prefeitura de São Paulo, Fernando Haddad, por exemplo, já deu o tom: "o DNA do mensalão é tucano e veio de Minas", disse hoje numa tentativa de evitar a marca desta condenação em sua candidatura.

De início, a primeira reação do partido foi a de afirmar que o crime cometido era um crime eleitoral, prática comum no mundo político, o caixa dois. Foi a primeira argumentação feita pelo então presidente Lula quando o caso se tornou público. Hoje a presidente do Tribunal Superior Eleitoral, a ministra Carmen Lúcia, foi dura na crítica a esta linha de argumentação.

- O ilícito não é normal.  Acho estranho e grave que uma pessoa diga que houve caixa dois! Ora, caixa dois é crime, é uma agressão à sociedade brasileira – disse a ministra que hoje é presidente do Tribunal Superior Eleitoral.

A esta altura, esta condenação é como uma tatuagem para o PT, não há mais como ignorá-la. O que o partido pode, e já está fazendo, é tentar envolver outros partidos, em particular os da oposição no mesmo barco. Difícil vai ser para o partido retomar a bandeira da ética – discurso de sua fundação e também o que o levou a ser considerado  "um partido diferente" dos demais.

Depois do caso, o partido tentou estratégias para proteger os seus mais altos quadros, como José Dirceu, por exemplo. O primeiro foi o de tentar "sacrificar" o tesoureiro Delúbio Soares – que foi expulso do PT, mas novamente acolhido há pouco mais de um ano. Delúbio tentou assumiu sozinho a responsabilidade, mas o STF não concordou com a tese. O ministro Marco Aurélio Mello chegou a dizer:

- Se Delúbio Soares tivesse a competência a a inteligência que são a ele atribuídas, ele não seria apenas o tesoureiro do partido – disse, como que indicando que ele estaria em cargo mais importante no governo.

Agora, é esperar para ver qual será a pena a ser imposta pelo Supremo Tribunal Federal. E, depois, o discurso da militância. O fato é que, o partido que nasceu em defesa da ética na política e que ao longo de sua vida foi duro nas acusações a seus aliados, é o primeiro no país a ver uma condenação tão dura pela última instância da Justiça brasileira.

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