No dia 27 deste mês, a histórica entrevista de Pedro Collor à VEJA completa 20 anos. Como sabem, ele denunciou com todas as letras e com riqueza de detalhes (releia a íntegra daqui a pouco), a rede de corrupção montada, segundo ele, por seu irmão e por PC Farias. Ocorre que seu irmão era o então presidente Fernando Collor de Mello. Boa parte das traficâncias apontadas por Pedro foi confirmada pela CPI, o que resultou no pedido de impeachment do então presidente. Antes que se consumasse oficialmente o impedimento, ele renunciou. Os petistas, então na oposição, foram membros ativos da CPI e da mobilização de rua contra Collor. A Comissão Parlamentar de Inquérito revelou um governo mergulhado na lama, na ilegalidade e na desordem. Passados vinte anos, eis que Fernando Collor se juntou a uma ala do petismo para fazer da CPI do Cachoeira uma base de operações de chicanas para tentar proteger mensaleiros. E, como um Bourbon da periferia, demonstra não ter aprendido nada nem ter esquecido nada. Coube a ele a tarefa de apresentar à CPI um requerimento pedindo a convocação do jornalista Policarpo Jr., da VEJA. O inquérito da Polícia Federal e as gravações que já vieram a público e que estão em todo canto evidenciam o óbvio: havia um jornalista em busca de informações. Como destaca editorial do Globo desta terça, o que resta claro das gravações é que o jornalista não oferecia vantagem nenhuma ao grupo de Cachoeira. Mas, neste maio, há outro aniversário: sete anos da reportagem em que Maurício Marinho, dos Correios, aparece cobrando R$ 3 mil de propina e que está na raiz das denúncias do mensalão. E, nesse caso, quem procura se vingar da revista é uma ala do PT. Um rancor de 20 e outro se 7 se juntaram para resultar no requerimento assinado por Collor. É uma farsa ridícula essa história de que a imprensa quer impunidade. Impunidade uma ova! Quem cometeu crimes tem de ser punido, da imprensa ou não — e, para tanto, o Código Penal está aí. Que aqueles que se consideram agravados recorram à Justiça. Collor e essa banda do PT querem, no entanto, usar a CPI para intimidar o jornalismo, para submetê-lo a uma espécie de corredor polonês político. A mensagem é uma só: "Não se metam conosco, ou vocês vão pagar caro". Pergunte-se o óbvio: que partido ou liderança política do Brasil endossaria plenamente o trabalho da imprensa livre? Ora, notícia boa, já se disse à farta, é notícia a favor — ou a nosso favor ou daquilo que pensamos. Nas melhores democracias do mundo, seria impensável algo como o que está em curso no Brasil, neste momento. É ridículo o paralelo com o jornal The News of the World, da Grã-Bretanha. Naquele caso, agentes do jornal recorreram ao crime para produzir notícia. Qual é o crime atribuído ao profissional de VEJA mesmo? Os demais jornalistas investigativos de Brasília, inclusive estes que conseguem documentos aos montes que estão em sigilo de Justiça, só conversam com anjos morais? Collor não aprendeu nada em 20 anos. Também não esqueceu nada! E empresta o seu velho rancor aos novos rancores que petistas foram acumulando nesses sete nos. Há duas décadas, eles próprios estavam entre as fontes principais da imprensa. Se há bobalhão achando que a rusga é com a VEJA e pronto!, está errado. Hoje, tentam um tribunal político contra a revista; amanhã é contra outro qualquer. A CPI vai decidir se, contra os fatos e contra as evidências, será refém da conspiração do ódio. Por Reinaldo Azevedo
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