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terça-feira, 17 de agosto de 2010

CARTA PUBLICADA NO ESTADÃO  

Carta-resposta  de um Juiz ao Presidente Lula publicada no  Jornal O Estado de São Paulo "Estadão", publicada hoje, 17-08-2010.   
  
Carta do Juiz Ruy  Coppola (2º TAC).   


 Mensagem ao  presidente! 

   Estimado presidente, assisti na  televisão, anteontem, o trecho de seu discurso criticando o Poder  Judiciário e dizendo que V. Exa. e seu amigo Tarso, ministro da Justiça,  há muito tempo são favoráveis ao controle externo do Poder Judiciário,  não para 'meter a mão na decisão do juiz', mas para abrir a  'caixa-preta' do Poder...   Vi também V. Exa. falar sobre  'duas Justiças' e sobre a influência do dinheiro nas decisões da  Justiça.  
       Fiquei abismado, caro presidente,  não com a falta de conhecimento de V.Exa., já que coisa diversa não  poderia esperar (só pelo fato de que o nobre presidente é leigo), mas  com o fato de que o nobre presidente ainda não se tenha dado conta de  que não é mais candidato.   
       Não precisa mais falar como se em  palanque estivesse; não precisa mais fazer cara de inconformado,  alterando o tom da voz para influir no ânimo da platéia. Afinal, não é  sempre que se faz discurso na porta da Volks.    
        Não precisa mais  chorar.  O eminente presidente precisa apenas mandar, o que  não fez até agora.  
Não existem duas Justiças, como  V. Exa. falou. Existe uma só. Que é cega, mas não é surda e  costuma escutar as besteiras que muitos falam sobre ela.     Basta ao presidente mandar seu  amigo Tarso tomar medidas concretas e efetivas contra o crime  organizado. Mandar seus demais ministros  exercer os cargos para os quais foram nomeados.   
Mandar seus líderes partidários  fazer menos conchavos e começar a legislar em favor da sociedade.    
Afinal, V. Exa.. foi eleito para isso.   
     Sr.  presidente, no mesmo canal de televisão, assisti a uma reportagem dando  conta de que, em Pernambuco (sua terra natal),  crianças que haviam abandonado o lixão, por receberem R$ 25,00 do  Bolsa-Escola , tinham voltado para aquela vida (??) insólita  simplesmente porque desde janeiro seu governo não repassou o dinheiro  destinado ao Bolsa-Escola . 
     Como se pode ver, Sr.  presidente, vou tentar lembrá-lo de algumas coisas simples. Nós, do  Poder Judiciário, não temos caixa-preta. Temos leis inconsistentes e  brandas (que seu amigo Tarso sempre utilizou para inocentar pessoas  acusadas de crimes do colarinho-branco) . 
       Temos de conviver com a Fazenda  Pública (e o Sr. presidente é responsável por ela, caso não saiba),  sendo nossa maior cliente e litigante, na maioria dos casos, de má-fé.    
          Temos os precatórios que não são pagos..   
         Temos  acidentados que não recebem benefícios em dia (o INSS é de sua  responsabilidade, Sr. presidente). Não temos medo algum de qualquer   controle externo, Sr. presidente.   
Temos medo, sim, de que  pessoas menos avisadas, como V. Exa. mostrou ser, confundam controle  externo com atividade jurisdicional (pergunte ao seu amigo Tarso, ele  explica o que é).   
       De qualquer forma, não é bom falar de corda  em casa de enforcado.   
Evidente que V. Exa. usou da expressão  'caixa-preta' não no sentido pejorativo do termo.   
Juízes não  tomam vinho de R$ 4 mil a garrafa.   
Juízes não são agradados  com vinhos portugueses raros quando vão a restaurantes.    
Juízes, quando fazem churrasco, não mandam vir churrasqueiro de  outro Estado.   
Mulheres de juízes não possuem condições  financeiras para importar cabeleireiros de outras unidades da  Federação,  apenas para fazer uma 'escova'. Cachorros de  juízes não andam de carro oficial.   Caixa-preta por  caixa-preta (no sentido meramente figurativo), sr. presidente, a do  Poder Executivo é bem maior do que a nossa.   
Meus respeitos a  V. Exa. e recomendações ao seu amigo Márcio.   

Dê  lembranças a 'Michelle'. (Michelle é cachorrinha do presidente que passeia em carro oficial)

Ruy Coppola, juiz do 2.º Tribunal  de Alçada Civil do Estado de São Paulo, São  Paulo 

VAMOS  REPASSAR...  

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